Cascais apresenta Plano de Renaturalização Urbana

A Câmara de Cascais prevê plantar mais de 164 mil árvores e arbustos nos próximos cinco anos, no âmbito do seu Plano de Renaturalização Urbana. A maioria será plantada no Parque Natural Sintra-Cascais, mas no perímetro urbano estão previstas 2 800 árvores. Até 2030, a autarquia quer ter 12 metros quadrados de espaços verdes por habitante.

Bosque das Fontainhas (fotografia LPP)

A Câmara de Cascais apresentou, no início de Março, o seu Plano de Renaturalização Urbana, uma estratégia de longo prazo que visa expandir a estrutura ecológica do concelho, para além das zonas de protecção especial. A iniciativa, apresentada na zona envolvente do Mercado de Carcavelos, aposta na criação de corredores ecológicos que ligam espaços verdes, promovendo a biodiversidade e tornando a cidade mais resiliente às alterações climáticas. 

“Começámos há 20 anos a trazer o verde de volta a Cascais. Este Plano de Renaturalização é a devolução da natureza à cidade”, afirmou durante o evento Luís Almeida Capão, Director Municipal de Ambiente e Sustentabilidade. “Queremos que Cascais se torne uma referência mundial também no que toca à renaturalização do meio urbano”, acrescentou o responsável, referindo que até 2030 o objectivo é ter 12 m² de espaços verdes por habitante. “Queremos que Cascais, vista do céu, tenha verde por todo o lado e que se confunda cada vez o que é área protegida, o que é zona de transição e o que é área urbana.”

Novas plantações junto à ribeira de Sassoeiros (fotografia LPP)

O Plano de Renaturalização Urbana de Cascais prevê que, nos próximos cinco anos, sejam plantadas mais de 164 mil árvores e arbustos, reforçando a cobertura vegetal em áreas urbanas e rurais. No perímetro urbano, em arruamentos e espaços verdes, serão plantadas 2 800 árvores. Já o Parque Natural Sintra-Cascais vai receber 160 600 exemplares arbóreos, dos quais mais de 109 860 estarão afectas ao projecto LIFE ResLand, promovido pela autarquia e que recebe o cofinanciamento da Comissão Europeia.

Trazer a biodiversidade para o espaço urbano

Ao devolver uma cobertura verde significativa ao concelho, Cascais pretende não só melhorar a qualidade do ar, mas também mitigar os efeitos das alterações climáticas, reduzindo as temperaturas médias no verão, aumentando a retenção de humidade no solo e capturando CO₂. Segundo Capão, “a biodiversidade tem ficado, no imaginário colectivo, associada aos grandes espaços naturais intocados. A nossa proposta é diferente: queremos reforçar a biodiversidade nas zonas urbanas, disse o Director Municipal de Ambiente e Sustentabilidade, referindo que “não nos podemos dar ao luxo de recusar a presença de árvores e arbustos nos espaços urbanos, nem a biodiversidade que naturalmente trazem consigo”.

Segundo dados da Câmara de Cascais, desde 2011 que o número de hectares de espaços verdes aumentou no território cascalense. A criação de pequenos bosques urbanos, à porta de casa, a promoção de prados de sequeiro, que vivem sem rega e ao sabor das estações do ano, a reintrodução de ribeiras no ambiente urbano (caso das ribeiras de Sassoeiros, de Caparide e das Vinhas), ou a promoção da agricultura urbana através de hortas, pomares e vinhas comunitárias são algumas das medidas tomadas nos últimos anos pela autarquia, que quer prosseguir esse trabalho através de novas iniciativas, enquadradas no plano apresentado.

Remover calçada e introduzir mobiliário verde

No evento de apresentação do Plano de Renaturalização Urbana de Cascais, que decorreu na zona envolvente do Mercado de Carcavelos, foram mostradas algumas soluções para a transformação do espaço urbano, como a remoção de calçada impermeável para a criação de canteiros ajardinados, ou a implementação das estruturas portáteis para sombreamento natural em praças.

No âmbito deste plano, também se propõe a transformação de algumas paragens de autocarro, que passarão a ter também alguma vegetação e sombreamento para não só ficarem mais bonitas mas também mais frescas, a arborização de ruas sem árvores, e a permeabilização de rotundas impermeáveis com a plantação de árvores ou arbustos. “Algumas destas soluções estão à vista”, realçou Luís Almeida Capão.

Uma outra componente importante do plano é a aquisição de terrenos para a salvaguarda do respectivo património vegetal, nomeadamente de 43 hectares no vale de Caparide e de 15 hectares no vale de Freiria, bem como de cinco hectares no Mosteiro de Santa Maria do Mar e de seis hectares na bacias hidrográfica de Sassoeiros; assim como a definição de parcerias com quintas históricas para preservar o vinho de Carcavelos e os usos tradicionais do solo.

Dados abertos

Paralelamente, os munícipes vão poder monitorizar, em tempo real, através do portal GeoAtlas de Cascais, os indicadores de sequestro de CO2, de diminuição da temperatura, e o aumento de biodiversidade que cada aglomerado de árvores ou cada árvore representa. “O inventário das espécies arbóreas já está muito avançado”, referiu o responsável, explicando que “a partilha de informação com transparência permite a cada pessoa que queira conhecer melhor o jardim que vai ter à sua porta”.

A arborização do concelho desempenhará um papel fundamental na regulação da temperatura local, criando áreas de sombra e reduzindo o efeito de ilha de calor nas zonas urbanas. Para além do impacto térmico, as árvores contribuirão para a diminuição do ruído, melhorando o conforto acústico em áreas residenciais e de elevada circulação. Outro benefício relevante será o reforço da privacidade das habitações, com a vegetação a actuar como barreira natural, proporcionando maior sensação de segurança e bem-estar aos residentes. 

Uma questão de saúde física e mental

O trilho da ribeira das Vinhas permite apreciar a Natureza bem a partir do centro da vila de Cascais (fotografia LPP)

Além disso, o plano prevê melhorias na gestão do tráfego de veículos e peões, promovendo uma circulação mais fluida e segura, tornando os espaços urbanos mais agradáveis e acessíveis para todos. Para além dos seus benefícios ambientais, esta estratégia de renaturalização urbana é um investimento essencial na qualidade de vida e bem estar da população. “Sabemos hoje, por inúmeros estudos, que viver perto de um espaço verde, com árvores, aumenta a saúde física e a saúde mental das pessoas”, lembrou Capão.

“Cascais está cada vez mais verde e preparado para os desafios climáticos. Esta é uma estratégia que já vem do passado e que nos faz olhar para o futuro. O Plano de Renaturalização Urbana de Cascais vai muito além de melhorar a qualidade do ar. Conseguimos regular a temperatura, reduzindo o efeito de ilha de calor, bem como o isolamento de ruído em zonas de maior afluência, com espaços verdes que incentivam ainda a prática de lazer e actividade física”, sublinhou Nuno Piteira Lopes, vice-presidente da Câmara de Cascais, no mesmo evento. “Estamos, por isso, a apostar no bem estar dos nossos munícipes e essa vai ser sempre a nossa principal preocupação.”

Quinta do Pisão, Cascais (fotografia LPP)

“Estamos a criar condições que contribuam para uma melhor qualidade de vida da população”, completou Carlos Carreiras, Presidente da Câmara. “Este esforço está a ser realizado de uma forma consistente, desde há vários anos. Além daquilo que se vê na área terrestre, estamos também a promover o crescimento das florestas marinhas”, acrescentou o autarca cascalense, lembrando ainda que “a requalificação das ribeiras do concelho tem, igualmente, permitido a criação de espaços verdes para utilização da população”.

Durante a apresentação do Plano de Renauturalização de Cascais, a associação SOS Quinta dos Ingleses promoveu um protesto silencioso, acusando a autarquia de incoerência por permitir, ao mesmo tempo, que permite o avanço do projecto de urbanização do terreno mais conhecido como Quinta dos Ingleses, junto à praia de Carcavelos.

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