De há mais de um ano para cá, circular de bicicleta na ciclovia da Avenida da República, a mais movimentada da cidade, tem exigido um cuidado redobrado devido aos buracos que não param de aparecer e de surpreender até os mais atentos.

Há mais de um ano que circular na ciclovia da Avenida da República, a mais movimentada do país, se tornou um pouco perigoso — em especial à noite, quando a visibilidade é menor. Os buracos no pavimento vão-se multiplicando, sem sinalização: alguns são tapados, novos vão surgindo, mas a maioria persiste durante demasiados meses, sem que nada seja feito.
Próximo da estação de comboios de Entrecampos, quando a ciclovia é interrompida para dar prioridade aos passageiros a entrar ou a sair dos autocarros, foi removido uma parte do pavimento pedonal. A situação, que provavelmente decorre de uma obra de reparação da JCDecaux, arrasta-se há mais de uma semana. Sem qualquer sinalização temporária no local, vários ciclistas são surpreendidos por uma área sem pavimentação – um buraco que aparece de forma inesperada, mesmo para os mais atentos, e que, com o tráfego das bicicletas, vai ficando cada vez mais profundo. Há quem, de dia ou de noite, acabe por quase cair neste local.


Essa não é a única zona da ciclovia da Avenida da República onde, agora, é preciso circular com atenção redobrada. A poucos metros dali, na paragem terminal do 749 que serve a estação de comboios, há um outro buraco, este mais pequeno e que resultou da remoção de uma guia táctil e de um atravessamento pedonal durante a obra de requalificação da avenida em 2017.
Com o tempo e com a elevada passagem de bicicletas, o remendo então colocado acabou por quebrar: as rodas das bicicletas foram pressionando o pavimento e, com o tempo, o cimento foi-se soltando aos poucos e poucos, até formar uma abertura saliente. A situação não é tão crítica como o buraco anteriormente referido (porque é menos saliente), e os ciclistas frequentes já se habituaram e vão-se desviando. Mas pode surpreender os mais incautos.


Pavimentos mal reparados
Nos últimos meses, outros buracos – que já foram resolvidos – causaram problemas a ciclistas e peões que circulam na Avenida da República. Esses transtornos decorreram, sobretudo, do atribulado processo de renovação dos abrigos das paragens de autocarro, da responsabilidade da JCDecaux e executado por empreiteiros subcontratados esta. A aparente falta de fiscalização por parte da autarquia às obras que eram feitas pela cidade permitiu que, na Avenida da República e em noutros locais da capital, a reposição de pavimentos após a troca dos abrigos fosse feita nem sempre da forma correta, com a colocação do pavimento original.


Na verdade, a renovação do mobiliário das paragens exigiu a abertura de buracos nos passeios para remover as estruturas antigas e instalar as novas. Na Avenida da República, esse processo resultou na destruição parcial do cimento UNILISBOA Branco, um betão especialmente produzido pela Secil para os pavimentos pedonais de Lisboa. Durante a reposição dos pavimentos nesta avenida, os empreiteiros contratados pela JCDecaux usaram um cimento de qualidade inferior, em vez do cimento original – que garante “elevada durabilidade” – e que é um dos mais baratos disponíveis, como, por exemplo, no Bricomarché.
O resultado: com o intenso tráfego de ciclistas na Avenida da República, os pavimentos repostos começaram a se desgastar rapidamente, e alguns buracos surgiram em pouco tempo. Esse resultado esteve à vista de todos durante largos meses, tanto junto à paragem terminal do 749 – ver fotografias anteriores –, como no Campo Pequeno, onde uma antiga paragem, desactivada desde que o serviço Aerobus foi suspenso na altura da pandemia, foi removida. Durante muitos meses, ciclistas e também peões tiveram de se desviar dos buracos nessas duas zonas: o do 749 só foi resolvido no final de Janeiro de 2025; os do Campo Pequeno foram tapados em Outubro do ano passado, depois de terem estado ao descoberto desde o final de 2023.

Em Maio de 2024, o Executivo municipal liderado por Carlos Moedas prometeu melhorar a manutenção da rede ciclável existente, através da transferência de verbas para a EMEL para esse fim. No entanto, este trabalho parece estar centrado em ciclovias pouco utilizadas e não nos eixos mais procurados, onde existem problemas de segurança por resolver. Na ciclovia mais movimentada da cidade, a manutenção e a resolução destes buracos tem sido pouco célere. Contudo, contactada pelo LPP, a Câmara de Lisboa mostrou-se atenta aos problemas nos pavimentos pedonais (e cicláveis) da Avenida da República, e prometeu a sua resolução.