A aplicação da Carris já está “totalmente operacional” mas a API com informação em tempo real dos autocarros e eléctricos não vai voltar a ser pública. Empresa disponível para dar acesso a quem lhe pedir, mediante análise.
A Carris refere que a sua app, onde é possível consultar os horários em tempo real dos seus autocarros e eléctricos, já está “totalmente operacional” mas não tenciona voltar a publicar a API que permitiria a qualquer pessoa aceder a essa informação, para desenvolver análises ou criar aplicações comunitárias, como acontece, por exemplo, no Metro de Lisboa.
A operadora rodoviária municipal de Lisboa esclarece que, “no passado recente”, houve necessidade de fazer uma alteração na arquitectura da aplicação móvel, “isto porque a informação da operação da Carris estava a ser acedida pelo público em geral, uma vez que não tínhamos activo o registo de cliente para a app”. Ou seja, o conjunto de APIs que permitia à aplicação da Carris mostrar os horários em tempo real das carreiras estava a ser utilizada por mais pessoas ou entidades, o que, de acordo com a operadora, estaria a sobrecarregar o seu servidor, levando à indisponibilidade de informação actualizada ou sequer disponível na app para os passageiros.
“Qualquer pessoa ou empresa de software poderia usar a informação dos nossos serviços e, inclusivamente, sobrecarregar o nosso servidor. Isso aconteceu no passado recente e levou-nos a actualizar as versões da app, de modo a introduzir novos processos de segurança e de utilização das credenciais”, explicou a Carris ao Lisboa Para Pessoas. Os acessos à API “deixaram de ser públicos, passando a ser mais restritos e controlados no tempo” e, por esse motivo, “actualmente as novas versões da app para Android e iOS já respondem com maior rapidez e disponibilidade”.
Contrariamente à Carris, o Metro de Lisboa disponibiliza publicamente as suas APIs com informação em tempo real da localização dos comboios, tempos de espera, perturbações no serviço e outros dados. Essa abertura por parte deste operador tem permitido o surgimento de projectos comunitários, como a aplicação Próximo Metro, que mostra de forma simples e prática quanto tempo falta para o próximo metro em qualquer estação; ou o site Perturbações.pt, que apresenta a mais completa análise da disponibilidade e indisponibilidade do serviço do Metro de Lisboa ao longo de vários anos.
Apesar de o Metro de Lisboa disponibilizar dados em tempo real através das suas APIs públicas – que qualquer pessoa ou entidade pode utilizar –, essa informação alimenta o site da própria empresa ou a conta de Twitter, onde é possível consultar o “estado das linhas” e saber se existe alguma perturbação no serviço, e também os painéis físicos das estações. O Metro pode assegurar que os pedidos de acesso às APIs por terceiros não perturbam a disponibilidade de informação nos canais oficiais da empresa, privilegiando tecnicamente a resposta do servidor aos canais oficiais em detrimento dos pedidos de terceiros; dessa forma, numa situação mais crítica de sobrecarga, os meios de comunicação mais importantes do Metro de Lisboa, como o seu site e painéis, poderão não falhar enquanto todos os outros falham.
Dados públicos mas não livres
A Carris, por seu lado, quer ter uma postura mais contida. A empresa diz que os seus dados “são públicos, o que não quer dizer que sejam livres”. A operadora, que está nas mãos da Câmara de Lisboa desde 2017, está disponível para facultar as credenciais de acesso às suas APIs mediante uma análise “tendo por base diversos parâmetros: finalidade, tipo de dados, descrição do projecto, medidas para a manutenção dos sites”. “Para além disso, sempre que solicitado, acompanhamos a implementação com suporte técnico e recomendações, de modo a preservarmos o valor e a credibilidade da informação”, informa a empresa. A Carris disponibiliza o e-mail atendimento@carris.pt e um formulário online.
A aplicação da Carris ficou operacional entre a semana passada e a actual, tendo-se registado melhorias nos últimos dias. Conforme reportou o Lisboa Para Pessoas na última semana, havia paragens onde não havia dados em tempo real sobre as carreiras na app e outras em que essa informação aparecia. A Carris explica que, “momentaneamente, o número de pedidos feito por todos os clientes, sejam os particulares, os canais digitais, os sites ou outras plataformas com integração B2B, colocou uma pressão elevadíssima numa fase de migração para o novo sistema, estando a Carris a gerir as ligações de acordo com as prioridades e o princípio do menor impacto ao cliente”.
A aplicação da Carris (iOS e Android) é actualmente o melhor local para saber os horários em tempo real dos autocarros e eléctricos da cidade de Lisboa, sendo que esses dados também estão disponíveis no site da empresa, onde é possível pesquisar uma determinada carreira, seleccionar uma paragem e ver os tempos de espera. Os horários em tempo real da Carris também estão disponíveis numa aplicação chamada Move-me, que integra também dados do Metro de Lisboa e de outros operadores noutras partes do país.
O Lisboa Para Pessoas questionou a Carris sobre a actual indisponibilidade de informação em tempo real noutras aplicações como o Google Maps, CityMapper ou Moovit. A transportadora diz que “já disponibiliza a informação para essas plataformas, cabendo a cada empresa decidir se quer utilizar os dados em tempo real ou utilizar os dados teóricos [horários tabelados], para alimentar os seus próprios algoritmos”. “A Carris foi, de resto, uma das primeiras entidades a disponibilizar os dados no formato GTFS-RT.”
