Para duplicar a disponibilidade de bicicletas GIRA no próximo ano, a EMEL vai electrificar 400 bicicletas “clássicas” e comprar 500 novas. Por outro lado, a ciclovia na Avenida Egas Moniz vai mesmo avançar, tal como a segunda fase da ciclovia da Avenida de Pádua.

A EMEL vai reparar e electrificar 400 bicicletas GIRA “clássicas” (isto é, sem assistência eléctrica), que tem encostadas na oficina, e repô-las em circulação já em 2023 (empresa diz estar à procura de “um parceiro para a reparação e simultânea electrificação”). Com esta medida e com a compra de 500 bicicletas novas, todas eléctricas, a EMEL espera duplicar a disponibilidade de bicicletas GIRA na rua no próximo ano.
Entre as 500 bicicletas novas e as 400 electrificadas, estamos a falar de mais 900 bicicletas na rede GIRA em 2023 – número ligeiramente abaixo das 1000 bicicletas que tinham sido anunciadas pelo Vereador das Finanças, Filipe Anacoreta Correia, na apresentação das linhas gerais do Orçamento Municipal para 2023. De qualquer das formas, a adição de 900 bicicletas à rede já significa, efectivamente, uma duplicação da frota em disponibilidade, como prometido por Anacoreta Correia.
“A EMEL tem planos muito concretos para que isso aconteça no mais breve espaço de tempo, estando já em curso a tramitação para o procedimento de aquisição de mais 2 000 bicicletas (todas eléctricas, indo ao encontro das preferências demonstradas pelos utilizadores), 500 das quais já no próximo ano. Paralelamente, procura-se um parceiro para a reparação e simultânea eletrificação de 400 bicicletas que se encontram em oficina – com estas duas medidas será possível duplicar, já em 2023, a frota em disponibilidade.”
– PAO da EMEL para 2023-2026
EMEL diz que oficina não consegue mais
Apesar de a EMEL ter em sua posse cerca de 1600 bicicletas GIRAs, a verdade é que em circulação costumam estar entre 800 e 900 bicicletas. O resto dos veículos está parado, na oficina. No seu Plano de Actividades e Orçamento (PAO) para 2023-2026, a empresa municipal reconhece o problema: “A EMEL planeou as aquisições [de bicicletas] de forma que a frota em disponibilidade fosse suficiente para garantir a confiança e conveniência do sistema”, lê-se no documento. “O que a EMEL não conseguiu assegurar foi o dimensionamento da oficina, de forma que o esforço de reparação fosse suficiente para dar resposta às necessidades de um sistema que, graças ao seu sucesso, coloca grandes desafios a este nível: com a frota actual já foi possível ter quase 1 100 bicicletas disponíveis para utilização, mas actualmente só um grande esforço da equipa permite que a disponibilidade se aproxime dos 900 veículos.”

Ou seja, na oficina da GIRA não é possível fazer mais reparações que aquelas que são feitas actualmente para aumentar a disponibilidade efectiva de bicicletas na rua. A EMEL diz que “está em curso” o recrutamento de mais pessoas para a oficina e que está também a rever a sua “política remuneratória” para que essas pessoas que contrata queiram ficar. Neste campo, a EMEL explica que a “grelha salarial vigente” tem levado a “uma rotação elevada no seio da equipa que assegura as operações de suporte ao sistema, especialmente na área de oficina”, pelo que “está a procurar a melhor forma de alinhar a sua política remuneratória com as necessidades que se manifestam”.
O Plano de Actividades e Orçamento (PAO) da EMEL para 2023-2026 é o documento que diz o que a empresa municipal de mobilidade pretende fazer, que receitas espera e onde conta ter despesas. Este documento é elaborado pela Administração da EMEL – agora presidida por Carlos Silva – e apresentado ao executivo da Câmara de Lisboa. Juntamente com os PAOs das outras empresas municipais e com o Orçamento do próprio município, é discutido e votado pelos vereadores antes de seguir para a Assembleia Municipal. Na reunião de Câmara da passada quarta-feira, 30 de Novembro, onde foi aprovado o Orçamento Municipal, também assim foram aprovados os PAOs das cinco empresas detidas pela Câmara, incluindo o da EMEL.
O PAO da EMEL para 2023-2026 é particularmente exaustivo sobre a GIRA, fazendo, ao longo de seis páginas, um diagnóstico e ponto de situação sobre o sistema de bicicletas partilhadas de Lisboa, lançado em 2017/18 (podes ler na íntegra no final do artigo).

300 estações e 3000 bicicletas até 2026
A GIRA conta actualmente com 139 estações activas e 1600 bicicletas teóricas, podendo dizer-se que está concluída, com cinco anos de atraso, a primeira fase do sistema, que previa 140 estações e 1410 bicicletas e que tinha como primeira data Outubro de 2017. Os esforços concentram-se agora na segunda fase, cuja ambição é chegar a 300 estações e 3000 bicicletas até 2026, levando a que a rede cubra todas as freguesias da cidade. A EMEL acredita ser possível chegar a estes números “com o planeamento de aquisições definido e com maior capacidade para atrair e reter técnicos para as equipas envolvidas nas operações do sistema”. Em relação a aquisições, a empresa diz estar “já em curso a tramitação para o procedimento de aquisição de mais 2 000 bicicletas (todas eléctricas, indo ao encontro das preferências demonstradas pelos utilizadores), 500 das quais já no próximo ano”.
Quanto a estações, o PAO da EMEL não é detalhado, mas o Vereador das Finanças tinha anunciado 29 novas em 2023, das quais nove serão estações que já estão instaladas no terreno mas ainda por abrir e 20 serão estações efectivamente novas. No total, foi anunciado por Filipe Anacoreta Correia um investimento de três milhões de euros pela Câmara de Lisboa (através da EMEL, claro) na GIRA em 2023, um aumento de 50% face a este ano. No PAO da EMEL, essas contas são difíceis de confirmar – até porque não sabe o que foi integrado nesse bolo –, mas a folha orçamental da EMEL afecta um valor perto dos dois milhões directamente à GIRA: 490 mil euros para novas estações e 1,125 mil para novas bicicletas, 50 mil para os ramais eléctricos que permitem às estações funcionar, e 273 mil para reparação e substituição de bicicletas.
Ciclovia na Avenida Egas Moniz avança

Em 2022, o ritmo de construção de infraestrutura ciclável abrandou consideravelmente, comparando com os anos anteriores, mas isso pode mudar ligeiramente em 2023. Com a proposta de Moedas para a ciclovia da Avenida Almirante Reis cancelada, foi construída apenas uma ciclovia na zona da Bela Vista e de Chelas, integrada num projecto de corredor verde. No entanto, abriu uma ciclovia junto ao futuro Parque Urbano da Pontinha (vulgo “Feira Popular”) e outra perto da Gare do Oriente, ligando as avenidas de Pádua e de Berlim. E a EMEL tem em construção uma ponte ciclopedonal na foz do rio Trancão, que deverá ficar pronta no próximo ano a tempo da Jornada Mundial da Juventude.

Ao mesmo tempo, em 2022, ficou adjudicada a prometida auditoria do LNEC ao eixo da Avenida Almirante Reis/Rua da Palma, entre o Areeiro e o Martim Moniz; e aguarda-se ainda o lançamento do concurso para a auditoria a toda a restante rede ciclável – só depois desta avaliação é que o executivo liderado por Moedas quer apresentar um plano de expansão da rede e começar a concretizá-lo. Essa vontade de auditar primeiro e fazer depois colocou no fundo da gaveta todos os projectos de ciclovia que poderiam, eventualmente, espreitar cá para fora. Foi o caso da ciclovia na Avenida Egas Moniz, que iria interligar as ciclovias já existentes nas avenidas dos Combatentes e da Lusíada, fazendo ainda uma ligação à zona da Cidade Universitária, e cuja empreitada tinha sido adjudicada no início de Janeiro de 2022.

Ora, entre uma revisão do projecto inicialmente previsto e futuras auditorias, nenhuma ciclovia avançou. No entanto, a EMEL adianta no seu Plano de Actividades e Orçamento (PAO) que “para o próximo ano, e sob a cobertura financeira de Contrato Mandato, a empresa dará continuidade a projetos já com compromissos assumidos ou adjudicados, como seja a ponte na Avenida Gago Coutinho ou a via na Avenida Professor Egas Moniz e na Avenida de Pádua”. Ou seja, os compromissos assumidos verão a luz do dia, apesar da prometida auditoria.
A ciclovia na Avenida de Pádua é uma segunda fase da infraestrutura que já existe num troço desta artéria; podes consultar o projecto aqui. Por seu lado, a ponte ciclopedonal na Avenida Gago Coutinho é um projecto que, para peões e ciclistas, irá ajudar a vencer um desnível entre quem vem da Avenida do Brasil e segue para os Olivais/Bela Vista, pelas vinhas, e que consistirá também numa ponte verde com árvores e jardim.

No PAO, a EMEL escreve que Lisboa tem assistido ao longo dos últimos anos “a um debate acalorado em torno da emergente densificação da rede de ciclovias” que serve o concelho e identifica que “muita da discussão decorre da incontornável escassez de espaço público, cuja alocação ao automóvel assumiu proporções tais que conduz a análise de redistribuições mais equitativas para perspetivas de soma nula: o que se implementa em favor do modo ciclável ou do modo pedonal é, quase sempre, conquistado ao automóvel”.
“Se os projectos desenvolvidos, em larga medida, validam, à priori, esta perspetiva, a verdade é que uma boa rede ciclável, reticulada e com continuidade, pode ajudar a um crescimento do modo ciclável a tal ponto que já não seja necessária uma afetação tão desproporcionada do espaço público à infraestrutura que viabiliza o uso do automóvel particular”, acrescenta a EMEL. A empresa municipal reconhece ainda que o ritmo de expansão da rede ciclável tem sido lento mas que a infraestrutura já existente tem permitido um crescimento da utilização da bicicleta, em segurança, na cidade:
“Se este é o racional subjacente à expansão da rede ciclável que a cidade tem procurado nos últimos anos, a realidade revela obstáculos muito complexos de ultrapassar e o ritmo de construção de novas vias, apesar da capacidade que a EMEL conseguiu desenvolver nesta matéria, mostra-se demasiado lento para que seja possível constatar todos os benefícios que surgem depois dos incómodos associados à construção e após o esforço de acomodação do tráfego automóvel, mas existe hoje uma rede ciclável na cidade de Lisboa bem mais conveniente que aquela que existia há apenas poucos anos atrás e que, pelo menos, tem permitido que o crescimento exponencial do modo ciclável não se traduza num aumento minimamente proporcional de acidentes.”
– PAO da EMEL para 2023-2026

O novo mapa de ciclovias da EMEL
A EMEL publica, no PAO, o seguinte mapa de ciclovias definidas. A verde estão identificados os três projectos supra-referidos: Avenida Egas Moniz, ponte ciclopedonal na Gago Coutinho e conclusão da Avenida de Pádua. A vermelho está mapeada a ponte ciclopedonal do Trancão, obra em curso. A amarelo, assinalam-se os projectos já elaborados mas na gaveta, como:
- a ciclovia na Rua César de Oliveira, no Lumiar. Chegou a estar em concurso público pela EMEL, mas esse procedimento terá sido cancelado entretanto. Esta ciclovia passaria por uma rua nas traseiras do Hospital da Força Aérea e do Centro Comercial de Telheiras, ligando a parte norte de Telheiras ao à zona do Paço do Lumiar e do Pingo Doce;
- a ciclovia na Avenida Álvaro Pais, que ligaria a estação de comboios de Entrecampos e a Avenida 5 de Outubro à parte alta, onde começa a Cidade Universitária;
- a ligação entre a ciclovia na Avenida Marechal Gomes da Costa e a Alameda dos Oceanos, no Parque das Nações, que nunca chegou a ser executada;
- a ciclovia na Estrada do Calhariz de Benfica, que iria tornar mais acessível as ciclovias da Radial e do Parque de Campismo, criando ao mesmo tempo um novo corredor verde pedonal.

A rosa, estão os projectos em elaboração de quatro ciclovias intermunicipais:
- o eixo Restelo-Algés, que inclui ciclovias nas avenidas da Índia e das Descobertas, e que irá ligar-se a Oeiras na zona marítima de Algés;
- o eixo Lumiar-Odivelas, pela Calçada de Carriche (que já tem parte do projecto elaborado);
- o eixo Benfica-Amadora, pela Rua da Venezuela, dando continuidade à ciclovia que vem da Rua Conde de Almoster e ligando à planeada ciclovia do Calhariz de Benfica;
- o eixo Olivais-Moscavide, através da Rotunda Matilde Bensaúde e Estrada da Circunvalação.
(O projecto das ciclovias intermunicipais inclui cinco eixos. O quinto é o único que já está em adiantado: consiste no eixo Parque das Nações-Sacavém e integra a ponte do Trancão.)
A branco, encontra-se assinalado um primeiro esboço da ciclovia ribeirinha contínua que Moedas quer criar a ligar Algés ao Parque das Nações – esta ciclovia sem interrupções foi uma das promessas eleitorais do actual Presidente da Câmara. O traçado dessa pista, que vai aproveitar infraestrutura existente e eliminar as interrupções existentes, vai agora ser estudado pela EMEL. No início de Setembro, já tinha vindo a público através da Informação Escrita do Presidente entregue na Assembleia Municipal que este projecto da ciclovia ribeirinha tinha começado a ser trabalhado pelos serviços camarários, começando pela definição da estratégia e pela identificação dos pontos descontínuos na ligação actual.
Câmara também andou a olhar para a bicicleta
Os serviços municipais também têm estado a trabalhar noutros projectos de infraestrutura ciclável, em conjunto ou não com a EMEL. Na mais recente Informação Escrita do Presidente, entregue em Novembro na Assembleia, surgiram outras novidades. A saber:
- foi feita uma proposta da sinalização vertical e horizontal na ciclovia entre a Avenida Cidade do Porto e a Avenida de Berlim (esta ciclovia nunca teve sinalização até hoje);
- foi feita uma proposta para a ciclovia da Avenida de Berna em alternativa à existente;
- foi feita uma proposta de melhoria para a ciclovia da Alameda das Linhas de Torres;
- foram avaliados projectos de ciclovias para a Calçada de Carriche, para a Estrada da Circunvalação, para a Avenida D. Vasco da Gama e para as Portas de Benfica (algumas dessas ligações estão integradas no projecto dos eixos intermunicipais);
- foi analisada a ligação entre a ciclovia planeada na Rua César de Oliveira e a ciclovia existente na Avenida das Nações Unidas.
A Câmara de Lisboa tem orçamentado, através da EMEL, um investimento de perto de 6,9 milhões de euros para a rede ciclável em 2023. A ponte sob a Avenida Almirante Gago Coutinho será a infraestrutura mais cara, devendo custar cerca de 2,6 milhões de euros; a ciclovia na Egas Moniz tinha sido adjudicada por 234,8 mil euros e a na Avenida de Pádua por 144,8 mil. Para a manutenção de ciclovias já existentes, a EMEL tem 500 mil euros reservados – estamos a falar de projectos como o que está em curso em Sete Rios, numa intersecção.
Podes ler em baixo o excerto do PAO da EMEL para 2023-2026 sobre a “mobilidade sustentável”, capítulo onde se insere a GIRA. O documento na íntegra, juntamente com o Orçamento Municipal e os PAOs da outras empresas municipais, será discutido e votado esta semana em plenário na Assembleia Municipal de Lisboa.