Sobre Henry pouco sabemos. Mas sabemos que gostaria de ver o Marquês de Pombal e outras zonas nobres da cidade sem os grandes outdoors políticos que destroem, hoje em dia, a paisagem urbana: “Take this shit off. We want trees!”
A pandemia dos grandes outdoors políticos não parece ter fim à vista. Zonas nobres da cidade como o Marquês de Pombal, o Campo Pequeno ou a Alameda são constantemente fustigadas por estas estruturas inestéticas, que se prolongam para lá dos períodos eleitorais. É um problema que ninguém parece querer resolver, como contámos em Agosto.
Depois de duas intensas campanhas eleitorais – autárquicas e legislativas –, um dos grandes cartazes que continua a circundar a imponente praça do Marquês de Pombal foi, há poucos dias, intervencionado com uma mensagem de protesto. Nas suas costas, lê-se agora: “The this shit off. We want trees!” (“Tirem esta porcaria. Queremos árvores!”, em português). O autor da frase? Henry, artista residente em Lisboa há mais de seis anos – “Sou português no coração. Lisboa com muito carinho e apoiou-me na minha jornada artística”, diz-nos. “Pinto as ruas e tento dar um valor artísticos à cidade através das minhas mensagens.”
Quem está mais atento às ruas da cidade e às respectivas dinâmicas urbanas já se terá cruzado e se intrigado com esta interrogação: “Who the fuck is Henry?”. A pergunta, que andou pintada ou colada por Lisboa, é também o nome de um colectivo que Henry formou com algumas pessoas “talentosas” – entre “chefs, filmmakers, designers, empreendedores, amigos, artistas, etc…”, “de diferentes países e diferentes culturas” – que partilham entre si o que cada um melhor sabe para, juntos, criarem “coisas divertidas” de forma “espontânea”.
Mas Henry também se move a solo – são vários os projectos que apresenta no seu site, alguns dos quais realizados com marcas como a Cerveja Musa e outros de guerrilha pela cidade. No Marquês, a tarefa foi um pouco diferente. “A mensagem aqui é dizer que não devemos deixar que esses políticos/marcas destruam a paisagem e devemos incentivá-los a usar o dinheiro para fazer algo melhor pela cidade”dice. “Plantar árvores em vez de outdoors seria bom.”
Numa série de Instagram Stories, Henry escrevia que os períodos eleitorais deixaram as ruas da cidade mais feias e que, “para se promoverem a eles mesmos”, os políticos “começaram a criar estes outdoors e a espalhá-los pela cidade”. O problema não é de agora e remonta pelo menos a 2001 – muito antes de Henry se ter mudado para a Lisboa –, com Santana Lopes na sua candidatura à CML. “Preocupo-me tanto com a minha casa – Lisboa –, que, quando vejo esta merda de outdoors a poluir a magnificência e encanto da nossa cidade, sinto que tenho de usar a minha energia ilegal para dizer o que tenho no coração”, conta-nos.
Henry refere que recebeu mais de 500 mensagens de pessoas a concordar com o que escreveu e que, “sem qualquer pretensão”, acha que “estas pequenas acções podem fazer a diferença por uma Lisboa melhor”. Mas… who the fuck is Henry? Quem é o raio do Henry? Sobre o Henry pouco se sabe: os amigos dizem que é “um bom rapaz, só não é bom a pedir autorização” – ou, pelo menos, é isto que Henry escreve no seu site.
