Cerca de 3000 pessoas levam petição à Assembleia Municipal para travar fim abrupto da ciclovia da Almirante Reis

De acordo com os promotores da petição, as quase 3000 assinaturas em papel fazem desta “a maior petição desde o início da pandemia, demonstrando o apoio da população local”. Peticionários pedem a manutenção da actual ciclovia até que haja um debate participado sobre o futuro da Almirante Reis.

Fotografia de Lisboa Para Pessoas

No passado dia 19 de Outubro, um milhar de pessoas saiu à rua em defesa da ciclovia da Almirante Reis, uma manifestação que Carlos Moedas prontamente desvalorizou, considerando-a um acto partidário. Agora, cerca de 3000 pessoas levam à Assembleia Municipal uma petição para travar o fim da ciclovia naquela avenida e pedir participação.

A entrega da petição na Assembleia de Municipal significa que esta, enquanto órgão fiscalizador do trabalho da Câmara, vai ter de discutir o futuro da ciclovia da Almirante Reis. Esse processo iniciar-se-á numa ou em várias comissões permanentes – aquelas que tratem o assunto em causa – e depois descerá ao plenário, onde estão representados todos os 75 deputados municipais e onde o PS e a esquerda são maioritários.

A recolha de assinaturas começou a ser feita no dia da manifestação por um grupo de voluntários pertencentes a movimentos cívicos ou associações, como é o caso da Caracol Pop ou do recém-formado colectivo Lisboa Possível. Os peticionários são sobretudo pessoas que vivem, trabalham ou estudam em Lisboa, tendo sido excluídos, por exemplo, turistas ou pessoas sem ligação à cidade. As assinaturas foram obtidas na rua, durante vários dias, e também junto de lojas e associações nas imediações da Almirante Reis.

De acordo com os promotores da petição, as 2 915 assinaturas em papel fazem desta “a maior petição desde o início da pandemia, demonstrando o apoio da população local”. O objectivo é apelar a “uma discussão sobre o futuro de Almirante Reis a propósito da ciclovia que percorre esta avenida”. Apela-se a que Moedas mantenha manter a actual ciclovia enquanto não existir “uma ampla participação pública e técnica, num processo transparente, que chegue a uma alternativa que ofereça uma rua segura para toda a gente”.

“Assim, apelamos à manutenção da ciclovia de Almirante Reis enquanto não existir uma ampla participação pública que chegue a uma alternativa que ofereça uma rua segura para toda a gente e atraente e confortável para os modos ativos. Apelamos por isso ao lançamento de um processo participado que permita discutir o futuro de um dos eixos mais importantes da cidade e aumentar a qualidade de vida de quem nele vive, estuda ou trabalha.”

– petição

Lembram os promotores da petição e seus peticionários que “promover a participação da população na cocriação das políticas públicas da cidade é um pilar do programa do novo executivo, sendo esta a oportunidade ideal para cumprir esta promessa eleitoral num dos eixos mais importantes de Lisboa”. Querem que a ciclovia pop-up construída na Almirante Reis – que tem vindo a captar cada vez mais utilizadores – seja apenas o pretexto para essa discussão.

A ciclovia da Almirante Reis

Nem sempre esteve prevista uma ciclovia na Avenida Almirante Reis, sendo que esta chegou a estar pensada apenas entre o quarteirão do Banco de Portugal e o Martim Moniz, passando pela contígua Rua da Palma. Em 2014, uma ciclovia no eixo Av. Almirante Reis/Av. Guerra Junqueiro/Av. de Roma venceu o Orçamento Participativo de então. Em Janeiro de 2020, a Câmara de Lisboa anunciou uma ciclovia na Avenida Almirante Reis como parte do projecto ZER ABC – que envolvia a eliminação parcial dos automóveis do centro histórico da cidade. Em Junho do mesmo ano, concretizou essa mesma ciclovia através de uma solução pop-up e com uma tipologia bidireccional no lado ascendente da avenida.

A Avenida Almirante Reis ganhou, assim, uma ciclovia entre a Praça do Martim Moniz e a Praça do Chile, que seria para prolongar, em Setembro de 2020, até à rotunda do Areeiro na mesma configuração bidireccional. A solução pop-up surgiu, no entanto, sem aviso prévio aos moradores e comerciantes da zona. Em Novembro, atenta às duras críticas, a Câmara de Lisboa anunciou rever a ciclovia e implementar uma nova configuração no início de 2021: em vez de um troço bidireccional num dos sentidos, propunha-se uma tipologia unidireccional em cada sentido. As obras arrancaram apenas no final de Março. A ciclovia está transitável mas as obras de readaptação da anterior configuração da ciclovia estão paradas há várias semanas; na zona da Alameda ficou por tratar a semaforização da ligação à Guerra Junqueiro.

A 26 de Setembro, a coligação Novos Tempos, liderada por Carlos Moedas, venceu as eleições autárquicas com uma diferença de cerca de 3000 votos da candidatura Mais Lisboa de Fernando Medina. Moedas tinha prometido remover a ciclovia da Almirante Reis e na freguesia de Arroios foi também a coligação Novos Tempos a vencer. Numa entrevista recente à Rádio Observador, Moedas disse e reafirmou que “a situação da ciclovia da Almirante Reis é má para a cidade” porque “aquela ciclovia não foi bem pensada”“foi um pop-up, uma ideia que surgiu durante a pandemia” e que “cria um enorme problema às ambulâncias que vão para o Hospital de São João” (esta afirmação é falsa, uma vez que a ciclovia facilita a circulação dos veículos de emergência quando a avenida está congestionada).

“Aquilo que vou fazer e que estou a estudar é criar uma alternativa e assim que tiver a alternativa tiramos obviamente a ciclovia da Almirante Reis. Estamos a estudar com engenheiros de vários partidos”, detalhou. “Espero que seja o mais depressa possível mas não vou dar uma data nem um dia porque prefiro fazer bem feito do que estar a prometer.” Moedas, na mesma entrevista, referiu-se à manifestação de dia 19 de Outubro como uma acção partidária – “aqueles que se vão manifestar partidariamente a favor das ciclovias”. “Eu subo a Almirante Reis, falo com as pessoas e as pessoas perguntam-se quando é que vou cumprir com a promessa. As promessas são para cumprir.” O novo Presidente da Câmara de Lisboa já teria considerado a manifestação uma acção partidária anteriormente, numa reunião privada de Câmara, segundo sabe o Lisboa Para Pessoas.

Luís Newton, presidente da bancada do PSD na Assembleia Municipal e Presidente da Junta de Freguesia da Estrela, tinha, no domingo 21 de Novembro, dado uma entrevista ao Diário de Notícias avançando que “está a recolher-se um conjunto de pareceres, de entidades relevantes no âmbito da mobilidade”. Newton disse que o “PSD não faz as coisas ao contrário. Há planeamento, envolvimento da própria cidade”, apesar de o partido através da coligação Novos Tempos ter prometido em campanha eleitoral que a ciclovia da Almirante Reis iria ser retirada, fazendo-o sem diálogo e sem procurar os pareceres que agora diz estar a juntar. “Estão a ser analisadas alternativas que, eventualmente, possam passar por outras zonas, que não tenham aquele impacto. É isto que será apresentado em breve, com uma solução.”

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