Lisboa discute vales da cidade em cinco Encontros de Urbanismo

“Entre duas colinas existe sempre um vale.” E Lisboa tem vários vales. Cinco deles serão discutidos ao longo deste ano: Chelas, Santo António, Almirante Reis, Alcântara e Ajuda. As sessões decorrem entre Março e Julho no Centro de Informação Urbana de Lisboa (CIUL) e são de entrada livre.

Fotografia de Lisboa Para Pessoas

“Entre duas colinas existe sempre um vale.” Joana Almeida, Vereadora do Urbanismo de Lisboa, abriu a décima edição dos Encontros de Urbanismo no Centro de Informação Urbana de Lisboa (CIUL), uma série anual de eventos dedicada a pensar e a discutir a cidade do ponto de vista urbanístico e que, neste ano, se centrará em cinco vales da cidade. E se é verdade que “Lisboa não tem só sete colinas, nem cinco vales”, nestes Encontros serão cinco os vales em debate – coincidindo com os cinco vales considerados de intervenção prioritária pela Câmara de Lisboa.

As sessões no CIUL sobre os vales de Lisboa vão decorrer entre Março e Julho, a partir das 18 horas, e são de entrada livre. No dia 23 de Março, vai discutir-se o Vale de Alcântara; no dia 20 de Abril, será a vez do Vale de Chelas; no dia 18 de Maio, falar-se-á do Vale da Ajuda; no dia 15 de Junho, do Vale Almirante Reis; e, por fim, no dia 6 de Julho, do Vale de Santo António. Podes seguir os nossos calendários para estares a par destas datas.

O arranque desta edição dos Encontros de Urbanismo foi feito com uma conversa introdutória com as vereadoras do Urbanismo e da Habitação, Joana Almeida e Filipa Roseta, e com o geógrafo Jorge Gaspar. A sessão começou com uma primeira intervenção da Vereadora Almeida, que apresentou o programa 5 Vales, no qual está a divisão de Urbanismo do município tem estado a trabalhar. Este programa tem dois grandes objectivos:

  • por um lado, eliminar barreiras, melhorando a conectividade ao longo dos vales e promovendo a proximidade entre encostas;
  • por outro, promover a coesão social e territorial, cerzindo as diferentes malhas urbanas, fomentando a estrutura verde e criando ligações pedonais.

Lisboa vai pensar sobre 5 dos seus vales

Se as colinas de Lisboa “sempre foram pontos notáveis e marcantes na cidade”, reconhecidos por todos, os vales acabam por ficar muitas vezes esquecidos da memória colectiva, apesar de terem “histórias de ocupações muito próprias”, referiu Joana. A Vereadora do Urbanismo olha para os vales de Lisboa como “territórios de oportunidade para intervenção e é, nesse sentido, que seleccionámos alguns vales da cidade, uns já muito construídos e consolidados, outros mais esquecidos”, para trabalhar no programa 5 Vales e no presente ciclo de Encontros. “Os vales que vamos aqui abordar têm realidades muito distintas e que vão precisar de necessidades específicas”, referiu, sumarizando o que está a ser pensado dentro do município para cada um dos cinco vales prioritários.

  • No Vale de Chelas, com cerca de 4 km de extensão, está a ser feito diagnóstico e definição da estratégia a seguir, sendo claro que aquela irá ganhar “uma nova centralidade” com a construção do novo Hospital Oriental de Lisboa (já adjudicada pelo Governo). “Vai haver ali toda uma nova cidade resultante desse novo pólo hospitalar e que deve ser estudada”, referiu Joana Almeida. A Vereadora do Urbanismo destacou ainda o elevado potencial ecológico da zona e os solos férteis – esse Vale poderá tornar-se a grande horta de Lisboa. “Temos uma identidade de Chelas associada às hortas ocupadas, a toda a ocupação por hortas ao longo deste vale”, reforço. Por outro lado, todo aquele território aguarda a construção da futura Terceira Travessia do Tejo e para ele estão previstos vários novos projectos de habitação acessível. Neste momento, Joana vê o território de Chelas como pouco coeso – “um conjunto de bairros isolados, sem ligações entre si e aos quais faltam várias funcionalidades da vida urbanas”.
  • No Vale de Santo António, com cerca de 1 km, está a ser desenvolvido um novo Plano de Urbanização do Vale de Santo António (PUVSA) com uma forte componente habitacional e a criação de bairros multifuncionais. “Aqui a componente da habitação deverá ser muito presente”, disse. “Nesta zona, 95% é propriedade municipal e, por isso, há uma oportunidade única de pensar este vale, ainda com estas vistas de rio que tem.” O PUVSA no qual o município está agora a trabalhar será uma actualização ao Plano em vigor, que data de 2012; Joana clarificou que o novo projecto manterá muita da essência do anterior mas com diferentes zoneamentos para habitação. “As linhas de água [pré-existentes no Vale de Santo António] serão o ponto de partida para o desenho deste território”, haverá um amplo parque urbano na mesma, serão preservados pontos de miradouro e serão definidos circuitos pedonais para favorecer a caminhabilidade;
  • No Vale da Almirante Reis, com cerca de 3 km, está a ser trabalhado o já anunciado Projecto Integrado, com uma análise e diagnóstico da situação existente, a definição do que pode ser o espaço canal existente e o estudo de soluções inovadoras de espaço público. “O grande desafio é o espaço canal estreito, em que há zonas onde não temos mais de 25 metros quadrados”, explicou Joana Almeida. “Temos passeio, temos circulação de bicicletas, temos estacionamento, temos cargas e descargas, e temos o transporte público e o transporte privado. E ainda temos o tema da arborização e das ondas de calor”, detalhou. “O verdadeiro desafio é como é que integramos no canal estreito todas estas funções, garantindo, por exemplo, – e é um problema que existe actualmente, ao nível dos modos suaves – conforto e segurança. Nem o pedonal, nem o ciclável têm neste momento conforto e segurança.”
Fotografia de Lisboa Para Pessoas
  • No Vale de Alcântara, com cerca de 3,5 km de extensão, prevê-se também Programa Integrado e também a conclusão do muito aguardado Corredor Verde. “Aqui a Avenida de Ceuta é claramente uma barreira” e é preciso perceber “como é que reduzimos este efeito barreira e como é que articulamos as encostas que são cortadas pela barreira da rodovia e do vale”, identificou Joana Almeida. A Vereadora salientou ainda os diferentes bairros da zona “que têm uma necessidade de requalificação ao nível de espaço público e do desenho urbano”, mas também do próprio edificado. A articulação da mobilidade suave, pedonal e ciclável, neste Vale de Alcântara é também uma preocupação.
  • No Vale da Ajuda, com 1,8 km de extensão, há “uma série de desafios”, prevendo-se uma actuação mais longitudinal que vertical em relação ao rio Tejo, no sentido de coser ligações urbanas e de ordenar um território disperso e desintegrado, e que é formado pelas zonas do Rio Seco e da Boa Hora. Aqui prevê-se trabalhar na articulação desse tecido fragmentado, em intervenções no espaço público, na definição de percursos pedonais, e na valorização ecológica do próprio vale, onde já existe um Corredor Verde (o Corredor Verde do Rio Seco, ligado a Monsanto, com hortas e um parque urbano).

“Pensar estes vales requer esta visão integrada”, salientou ainda Joana Almeida. “Há aqui uma visão integrada da arquitectura, da engenharia, da geografia, da história, da sociologia.” O aprofundamento sobre o trabalho que está e que vai ser desenvolvido em cada um destes vales ficou para as sessões seguintes.

Para esta primeira sessão introdutória, o geógrafo Jorge Gaspar trouxe definições de vale e de outras terminologias associados, como rio, ribeiro, rego ou regueirão, para colocar a audiência a pensar sobre as mesmas. E lembrou que “os vales têm uma relação com os cursos de água, mas temos vales aparentemente sem água”, referindo o exemplo do Vale de Alcântara, cujo ribeiro está encanado. Gaspar listou as diferentes funções económicas que os vales podem ter: desde a agricultura à indústria, passando pelos transportes. “É muito interessante ver que os vales estão ligados às acessibilidades à cidade”, como é o caso da antiga Estrada de Sacavém, composta pelo eixo tão bem conhecido da Almirante Reis, ou da Estrada de Sintra, hoje IC19.

Em jeito de provocação, Gaspar deixou um apelo para que seja mantida o nome original de Vale Escuro para o agora designado Vale de Santo António – o “verdadeiro” Vale de Santo António é outro, fica próximo na zona da Rua do Vale de Santo António. A sessão terminou com uma intervenção da Vereadora da Habitação, Filipa Roseta, que fez um preview da estratégia de habitação que seria apresentada uma semana mais tarde.

As próximas sessões

Infelizmente, esta primeira sessão desta edição dos Encontros de Urbanismo não teve transmissão online, mas terá ficado gravada para arquivo, juntamente com outros eventos deste ciclo já realizados. Não existindo uma tradição de disponibilizar esses conteúdos, o melhor será ficar atento às sessões seguintes e participar presencialmente:

  • 23 de Março – Vale de Alcântara;
  • 20 de Abril – Vale de Chelas;
  • 18 de Maio – Vale da Ajuda;
  • 15 de Junho – Vale Almirante Reis;
  • 6 de Julho – Vale de Santo António.

As sessões serão no Centro de Informação Urbana de Lisboa (CIUL), localizado em Picoas, e deverão começar às 18 horas. A entrada é livre mas, para garantir lugar, será fazer a inscrição através do formulário a divulgar próximo de cada data na página de Facebook do CIUL. Em alternativa, poderás acompanhar os Calendários do Lisboa Para Pessoas.

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