Câmara de Lisboa planta novas árvores para “arrefecer a cidade”

Uma das intervenções mais significativas decorreu na Avenida Cidade de Praga, em Carnide. Mas existiram plantações de árvores também no Areeiro e em Campo de Ourique, no âmbito da iniciativa “Uma Árvore Em Cada Esquina” e do programa “Arrefecer A Cidade”.

Uma das novas árvores plantadas pela CML (fotografia LPP)

As árvores desempenham um papel crucial no ambiente urbano, oferecendo diversas vantagens às cidades. Melhoram a qualidade do ar, absorvendo o dióxido de carbono (CO2) e outros poluentes atmosféricos e libertando oxigénio; reduzem o calor urbano, oferecendo sombra e reduzindo a temperatura do ar por meio da sua transpiração; promovem a biodiversidade, atraindo aves e insectos; e têm um papel ao nível do bem estar e da paisagem, contribuindo para áreas urbanas mais agradáveis visualmente e mais tranquilas.

Reconhecendo esses benefícios, a Câmara de Lisboa desenvolveu, em 2019, o programa Uma Árvore Em Cada Esquina, que agora integrou numa iniciativa mais abrangente – o Arrefecer A Cidade envolve outras medidas de base natural para criar ilhas de frescura no espaço urbano, contribuindo para a regulação microclimática da cidade.

O Uma Árvore Em Cada Esquina pretende “responder ao desconforto térmico ao nível da rua, contribuindo para a amenização climática local e para a redução dos efeitos da ilha de calor”, segundo a memória descritiva do projecto. No âmbito deste programa foram planeadas intervenções em pelo menos oito locais diferentes da cidade, abrangendo a plantação de um total de pelo menos 433 árvores e de vários arbustos. As intervenções foram divididas em dois blocos – A e B –, tendo sido recentemente executado o bloco A.

O bloco A do Uma Árvore Em Cada Esquina envolveu a plantação de um total de 401 árvores em quatro locais distintos. O mais significativo foi na Avenida Cidade de Praga, em Carnide, uma artéria que já tinha arborização no separador na maior parte do seu traçado. Essa arborização foi agora reforçada com a plantação de arbustos e de herbáceas de revestimento; foram substituídas algumas árvores em mau estado por novos exemplares; e foi prolongado o corredor arborizado desde a “rotunda da Renault” até à Praça São Francisco de Assis (a “rotunda da escultura vermelha”), onde não havia qualquer árvore.

No total, terão sido plantadas na Avenida Cidade de Praga 162 árvores, 1104 arbustos e 4638 m2 de revestimento com herbáceas. “A selecção das espécies de árvores, arbustos e herbáceas teve como critério a selecção de espécies bem adaptadas ao clima local, com baixas necessidades hídricas e de elevado valor cromático e florístico”, pode ler-se na memória descritiva. Para garantir o sucesso das plantações numa fase inicial (são espécies que “bebem” pouca água e que, a longo prazo, sobreviverão sem rega), foi instalado um sistema automático de rega gota-a-gota no separador central e canteiros desta Avenida.

Outra intervenção decorreu nas ruas Jorge Castilho e Barão de Sabrosa, no Alto do Pina, freguesia do Areeiro. No conjunto destas duas ruas, foram abertas 19 caldeiras para 19 árvores de porte médio-grande em áreas pedonais, oferecendo sombra a quem ande a pé. Ainda na mesma zona, mas mais perto das Olaias, foram desenhadas 19 caldeiras na Avenida Afonso Costa, junto ao Parque Urbano do Casal Vistoso e ao edifício dos serviços sociais da Câmara de Lisboa, oferecendo sombra ao passeio e dando continuidade à arborização já existente com a mesma espécie. Foi ainda reforçada a infraestrutura verde do Parque Urbano com novas árvores e arbustos de flora local, contribuindo para menores encargos de manutenção.

Em Campo de Ourique, um pequeno terreno baldio na Rua Joshua Benoliel, que tinha ficado esquecido entre obras, foi agora calcetado com a plantação de três árvores em caldeira, a colocação de bancos e ainda de pilaretes para evitar o estacionamento abusivo. Ainda na mesma freguesia, na Rua Prof. Gomes Teixeira, foi reforçada a arborização existente num dos lados dessa rua com a plantação de quatro árvores em caldeira da mesma espécie mas do outro lado da rua. Esta empreitada do bloco A do Uma Árvore Em Cada Esquina custou, no seu conjunto, aproximadamente 167,3 mil euros. Tinha sido adjudicada ainda em 2021 à empresa Flora Garden – Projectos Silvicultura e Jardinagem, Unipessoal, Lda.

Na memória descritiva, pode ler-se que nesta intervenção foram procurados os locais “mais favoráveis” para a plantação de árvores “em zona de passeios e com largura considerada suficiente às fachadas dos edifícios, e tendo ainda em atenção, o cadastro das infra-estruturas de subsolo”. O projecto procurou também colmatar os “efeitos da irradiação de calor das áreas pavimentadas” com a plantação de árvores e arbustos ao longo de vias de circulação automóvel. Por outro lado, “a introdução da arborização nos passeios da cidade potencia a redução solar directa sobre as fachadas dos edifícios e demais espaços de estadia produzindo uma melhoria na regulação térmica do espaço urbano contribuindo para uma melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes”.

Projecto previsto para a Rua José Ricardo, junto ao Mercado de Arroios (via CML)

O bloco B do Uma Árvore Em Cada Esquina foi adjudicado também em 2021 por cerca de 18,2 mil euros; apesar de este bloco incluir a plantação de 32 árvores em quatro locais diferentes, foram, até ao momento, plantadas apenas 15 em dois desses locais. Ao contrário do bloco A, as intervenções no âmbito deste pacote implicavam, na maioria, mexer em estacionamento automóvel. Na freguesia da Penha de França, foram colocadas 14 árvores nas ruas Enfermeiras da Grande Guerra e Triângulo Vermelho – por se tratarem de arruamentos estreitos de um só sentido de trânsito, com estacionamento de dois lados e passeios estreitos, a plantação teve de ser feita na zona de estacionamento, implicando a retirada de apenas quatro dos 57 lugares daquelas duas ruas. Já na Rua Cidade da Horta, na freguesia de Arroios, foi plantada uma árvore, juntamente com um banco de jardim, numa área onde o passeio é mais amplo e forma uma pequena praceta. O bloco B previa também, junto ao Mercado de Arroios, mais concretamente na Rua José Ricardo, tão necessitada de sombra, a plantação de 12 árvores em zona de estacionamento, com a supressão de apenas dois dos 50 lugares existentes nessa rua. Já na freguesia de Campo de Ourique previam-se cinco árvores numa ampla área de passeio entre a Estrada dos Prazeres e a Rua Freitas Gazul.

Arrefecer Lisboa

A Câmara de Lisboa integrou as intervenções Uma Árvore Em Cada Esquina num chapéu maior, o novo programa Arrefecer A Cidade, que tem vindo a ser desenvolvido pela área de Ambiente do município. Através deste programa, estão a ser trabalhadas soluções à micro-escala com o arrefecimento da cidade em vista: além da plantação de árvores, que captam CO2, refrescam o ar e dão sombra, estão a ser pensadas intervenções para:

  • aumentar a mobilidade pedonal e diminuir o tráfego automóvel, uma vez que a circulação de veículos é uma fonte de calor pela combustão que acontece no motor, e que os poluentes atmosféricos emitidos agravam a retenção de calor nas cidades;
  • substituir o asfalto por outros materiais de cor mais clara, como calçada, para aumentar a reflexão da energia solar incidente e reduzir, dessa forma, a absorção de calor (as cores claras reflectem melhor o calor que as cores escuras).

Neste âmbito, o programa Arrefecer A Cidade propõe-se a responder ao efeito de ilha de calor urbano, arborizando ruas ao mesmo tempo que melhora a sua acessibilidade pedonal e a segurança rodoviária. Uma das intervenções mais significativas que estão previstas no âmbito desta iniciativa vai realizar-se no Bairro das Colónias, em Arroios, entre a Praça do Chile e o Intendente. Está prevista a plantação de mais de 70 árvores em cruzamentos, que serão encabeçados, eliminando o estacionamento abusivo, melhorando a segurança das passadeiras e criando novas oportunidades de estadia no bairro.

Ao todo, a área pedonal que actualmente representa 30% na zona da intervenção vai passar para 55%, e a área afecta ao automóvel vai diminuir de 70% para 45%. Além do alargamento da área pedonal, serão colocados pisos confortáveis e adaptados a pessoas com mobilidade condicionada, criadas 38 passadeiras visíveis e acessíveis, oito zonas de estadia com bancos e outro mobiliário, e criados 20 estacionamentos para motas e bicicletas nas imediações dos atravessamentos pedonais (onde um carro estacionado reduziria a visibilidade de um condutor para com um peão que esteja a querer atravessar a estrada).

A Câmara de Lisboa partilhou com o LPP três intervenções previstas no Bairro das Colónias, em três intersecções diferentes, e que dão uma ideia da empreitada global, que, segundo a autarquia, se encontra em fase de orçamentação. O projecto do Arrefecer A Cidade no Bairro das Colónias foi validado na primeira edição do Conselho de Cidadãos, onde um grupo de pessoas apresentou a ideia de “um jardim em cada esquina”.

O Arrefecer A Cidade engloba ainda o projecto Ruas Verdes+, apresentado no início deste ano à população das freguesias do Areeiro e Arroios. Esta iniciativa promete criar um corredor pedonal arborizado ao longo das ruas Carlos Mardel e Francisco Sanches, com o intuito de formar um eixo contínuo entre o Parque Urbano do Casal Vistoso e o Jardim do Caracol da Penha, cuja abertura está prevista para o próximo dia 14 de Julho.

O Arrefecer A Cidade incluirá outras acções, além da arborização, para atenuar o efeito de ilha de calor urbano na cidade e tornar Lisboa mais resiliente às alterações climáticas. O programa procura também resolver ameaças como a impermeabilização dos solos ou o bloqueio de ventos e brisas refrescantes, e envolverá ainda a colocação de elementos de água no meio urbano e a disponibilização de novas fontes de água potável. Este programa visa, no fundo, responder ao aumento da temperatura (em especial dos valores máximos) que está prevista para Lisboa e que é a maior ameaça climática da cidade até final deste século XXI – com impactos negativos nos ecossistemas naturais, na saúde pública e na actividades socioeconómicas.

Na verdade, as alterações climáticas projectadas para a capital portuguesa avançam, até ao final do século XXI, um aumento da temperatura média anual (mais 1 a 4 ºC), bem como da temperatura mínima e máxima diária; um aumento acentuado da temperatura máxima de Outono (mais 2 a 5 ºC), um aumento do número de dias com temperaturas iguais ou superiores a 35 ºC e de noites tropicais, e a ocorrência de ondas de calor mais frequentes e mais longas. Por outro lado, o aumento da temperatura agrava-se localmente em áreas de elevada ocupação urbana, com a ocorrência do fenómeno de ilha de calor urbano. Estas ilhas de calor são tanto mais expressivas quanto mais densamente construído for o meio urbano, devido à sua maior absorção, retenção e geração de calor, e quanto menor for a presença de infraestruturas verdes (vegetação) e azuis (água).

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