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Uma paragem de eléctrico invulgar que recebeu reconhecimento internacional

Numa altura em que se exploram as possibilidades do uso do micélio de cogumelos na arquitectura, três jovens propõem utilizar este biomaterial para criar abrigos de paragens de eléctricos e autocarros em Lisboa. A proposta valeu-lhes uma distinção nos Prémios Nova Bauhaus Europeia.

Urban MYCOskin (DR)

E se a paragem do eléctrico 28 no Martim Moniz tivesse a forma de uma concha? E se essa concha fosse feita de um biomaterial obtido de cogumelos e de outros fungos? Esta foi a proposta apresentada pela portuguesa Rita Morais, pela polaca Natalia Piórecka e pela chilena Jennifer Levy na mais recente edição dos Prémios Nova Bauhaus Europeia, e que acabou como um dos 20 projectos laureados. A cerimónia de entrega das distinções decorreu em Bruxelas a 12 de Abril.

Micélio (via Urban MYCOskin/DR)

A ideia de Rita, Natalia e Jennifer chama-se Urban MYCOskin e sugere a utilização do micélio enquanto material biológico para criar infraestruturas urbanas mais sustentáveis e “bioreceptivas”, reduzindo significativamente os impactos ambientais e estimulando uma economia circular. O micélio é a parte vegetativa dos cogumelos e outros fungos, sendo através dele que estes organismos vivos recebem do solo os nutrientes de que necessitam; o micélio consiste numa massa ramificada de filamentos de diâmetro reduzido, e tem sido estudado como um possível material de construção.

Tomando como objecto de trabalho a paragem de eléctrico 28 do Martim Moniz, o grupo propôs um abrigo feito à base de micélio e de elementos impressos em 3D, capazes de dar estrutura, juntamente com um esqueleto metálico. As autoras dizem que esta solução promove a biodiversidade e a resiliência climática nas áreas citadinas, alinhando-se estreitamente com os objectivos globais de sustentabilidade. Na verdade, através do uso de topologias geométricas informadas por simulações ambientais, o Urban MYCOskin procura estabelecer um microclima em zonas vulneráveis aos aumentos de temperatura extrema – como sugerem ser o Martim Moniz –, ajudando no redirecionamento da água da chuva, na criação de sombra, na ventilação passiva e no crescimento de plantas em áreas específicas.

Ao mesmo tempo, sendo o micélio um material da Natureza, a infraestrutura da paragem de eléctrico seria biodegradável, o que significa um menor impacto ambiental ao nível de resíduos. Por outro lado, o grupo propõe o aproveitamento de resíduos agrícolas e têxteis através da sua decomposição para produzir materiais que possam ser usados nestas paragens de eléctrico e autocarro. As autoras falam na ideia de um abrigo de transportes públicos, mas as mesmas técnicas e materiais poderiam ser usados para construir outros elementos urbanos, como zonas de estadia na Praça do Martim Moniz.

Urban MYCOskin (DR)

As autoras premiadas reúnem um conjunto diversificado de competências da arquitectura, do design e da ciência, usando-as para responder a desafios ambientais através de soluções inovadoras do chamado biodesign. A experiência combinada das três em biomateriais e tecnologias digitais tem sido importante para alargar os horizontes do design sustentável, indicam. Ao jornal Público, as três jovens explicaram que, ainda assim, criar um sistema que aproveitasse os ciclos naturais de crescimento e decomposição do micélio para estruturas urbanas foi desafiador e envolveu um processo detalhado de pesquisa científica. Quanto a próximos passos, as autoras gostariam de testar esta sua proposta em ambiente real, procurando cidades e decisores políticos interessados.

Os Prémios Nova Bauhaus Europeia visam reconhecer e celebrar exemplos inspiradores de transformações dos espaços físicos, das experiências e vida quotidiana, integrando os três valores da Nova Bauhaus Europeia: sustentabilidade, estética e inclusão. Na cerimónia de 12 de Abril, referente à edição de 2024, foram atribuídos 20 prémios no total, tendo sido este o quarto ano consecutivo em que Portugal teve pelo menos um projecto vencedor. Nesta edição, houve, aliás, dois projectos distinguidos na categoria “Estrelas em Ascensão”, que laureou jovens com menos de 30 anos – o Urban MYCOskin ficou em primeiro lugar nesta categoria, em segundo lugar ficou o projecto Hydroscape Lisbon, sobre o qual falamos aqui.

Para já, podes conhecer o projecto do Urban MYCOskin em maior detalhe aqui:

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