“Não vai acabar nenhuma ciclovia em nenhuma localidade da cidade”

O novo vereador da mobilidade de Lisboa, Ângelo Pereira, garantiu esta quarta-feira que nenhuma ciclovia vai acabar: “Iremos corrigir o que está mal, manter o que está bem e iremos fazer crescer a possibilidade de os lisboetas se circularem em Lisboa através da mobilidade suave.”

Fotografia cortesia de Miguel Barroso/Lisboa Para Pessoas

“Não vai acabar nenhuma ciclovia em nenhuma localidade da cidade.” A garantia foi deixada pelo novo vereador de mobilidade da Câmara de Lisboa, Ângelo Pereira, na reunião pública do executivo que decorreu esta quarta-feira, 22 de Dezembro, nos Paços do Concelho. “Iremos corrigir o que está mal, manter o que está bem e iremos fazer crescer a possibilidade de os lisboetas se circularem em Lisboa através da mobilidade suave.”

Ângelo Pereira lembrou também que “Lisboa não é só a Avenida Almirante Reis. Há muitas avenidas, muitas ruas” e clarificou que “é objectivo da Câmara Municipal, deste executivo, do nosso Presidente Carlos Moedas, aumentar a rede ciclável na nossa cidade, e adaptar e corrigir o que está mal”. Podes ver aqui a intervenção do vereador da mobilidade de Lisboa:

Ângelo Pereira respondia a uma intervenção do movimento Lisboa Possível, que surgiu após a manifestação de Outubro em defesa da ciclovia da Almirante Reis. Ksenia Ashrafullina e Rita Prates, membros deste colectivo, desafiaram os vereadores da Câmara Municipal a pensar sobre que legado querem deixar na história da cidade, contando uma pequena história que pode ter dois desfechos, cabendo ao executivo de Carlos Moedas escolher um.

Num pequeno teatro improvisado, Ksenia apresentou uma Lisboa sem poluição e que “recuperou o cheiro do mar”, com árvores e jardins por todos os cantos, com espaço para caminhar e andar de bicicleta, com crianças a brincar nas ruas dos bairros sem filas de carros, com avenidas onde o ruído dos carros foi trocado pelo burburinho das conversas. Por seu lado, Rita detalhou uma opção, B, a da “Lisboa que conhecemos”, sem passeios dignos, sem espaço para brincar, com velocidades que tornam as ruas perigosas, uma Lisboa que perdeu ciclovias e onde as ambulâncias ficam presas entre carros parados.

O movimento Lisboa Possível explicou que Carlos Moedas pode escolher o primeiro cenário (“opção A”), uma “Lisboa verde, europeia, pedestre, onde as crianças podem ir de maneira independente até à escola de bicicleta” e também “uma Lisboa que ensina o prazer e a beleza de viver bem”. Ksenia e Rita argumentaram que “é possível” ter esta Lisboa “ainda hoje” com três medidas: Zonas de Zero Emissões, limite urbano de 30 km/h e a manutenção da ciclovia da Almirante Reis. “Temos que salvá-la, não podemos destruir nem um centímetro dela antes de discutir alternativas e, se as houver, podemos até construir a melhor ciclovia de Lisboa, de Portugal ou até do universo”, disse Ksenia, pedindo uma rede ciclável em Lisboa que não seja “aos farrapos”. Rita terminou: “O que é que vamos ver no capítulo da Lisboa de Carlos Moedas?”

Esquerda aplaude intervenção

À esquerda, a reacção foi unânime. Beatriz Gomes Dias, vereadora do BE, disse que “é de saudar que hoje o vereador se tenha comprometido com a manutenção da ciclovia da Almirante Reis”, falando num “avanço importante” e num reconhecimento da “importância e relevância desta ciclovia”, depois da sua “diabolização” na campanha eleitoral. “Toda a envolvente da Almirante Reis precisa de ser requalificada mas aquela ciclovia tornou-se paradigmática de tudo aquilo que nós queremos defender e dos recuos que não queremos aceitar.”

João Paulo Saraiva, do PS, falou num “momento histórico” e num assumir de “mea culpa” por parte do actual executivo que, pela voz do vereador Ângelo Pereira, “acaba de desdizer o que foi dito em campanha eleitoral”. O vereador socialista lamentou a “obsessão com a ciclovia da Almirante Reis” durante a campanha, e congratulou-se com a promessa de expandir a rede ciclável, bem como com a vontade de melhorar a infraestrutura existente.

João Paulo Saraiva disse ainda que da parte de Carlos Moedas “é devido um pedido de desculpas” a quem participou na manifestação em defesa da ciclovia no dia 19 de Outubro, após a sua tomada de posse. O Presidente da Câmara alegou em diversos momentos que aquela manifestação tinha sido “partidária” e uma “instrumentalização política”, e disse também que durante a mesma foi chamado de “assassino” – um grito que tanto os participantes como a organizam negam ter sido proferido. Para o vereador do PS, os manifestantes “exerceram aquilo que é um direito e dever cívico”, com “empenho e dedicação sem estarem a ser instrumentalizadas por ninguém a não ser pela sua consciência”.

Ana Jara, do PCP, defendeu que a “ciclovia problemática da campanha eleitoral” deve ser mantida, melhorada e “também discutida, porque nunca foi e parece que há muita gente para discutir esta cidade”. A vereadora comunista realçou que “Lisboa tem muitos planos com muitas visões de futuro que pecam sempre ou quase sempre por serem concretizados” . Ana Jara congratulou a intervenção feita pela Ksenia e pela Rita por terem trazido “uma visão de futuro”“é raro mas não deveria ser assim tão raro”, disse. Defendeu zonas zero não só no centro da cidade, até porque “continuam a permanecer focos de alta poluição na cidade, que têm de acabar. Temos de acabar com isto”.

Rui Tavares, do Livre, referiu que a intervenção feita “reporta um problema que é de todos nós. É indesejável fazer nesta cidade uma guerra cultural em torno do tema das mobilidades suaves. É certo entender que o problema da poluição afecta a toda a gente e que uma cidade com menos carros é uma cidade mais saudável, segura e despoluída”. Ressalvou que “não há futuros inevitáveis” e que “a escolha é mesmo de quem esta a viver o presente”. Disse ainda que o movimento Lisboa Possível tem “aliados desta visão da cidade nesta vereação. Creio até que será a maioria da vereação” e que tem aliados também “para que essa ciclovia se mantenha”. Rui Franco, do Cidadãos Por Lisboa, destacou que Ksenia e Rita “podem contar com o compromisso” da sua associação cívica e que “desejamos que estas opções que aqui defendem” sejam “desejavelmente” defendidas por todos.

A posição do executivo de Moedas mudou?

Depois de ouvidos todos os vereadores que pediram a palavra, Carlos Moedas realçou que “todos estamos de acordo no caminho” mas que “não podemos criar um caminho de fricção para chegar a uma cidade neutra em carbono”. “Aquilo que vemos neste tipo de discussões, e vimos isso aqui hoje de certa forma, está a criar uma fricção na cidade que não é positiva”, comentou o Presidente da Câmara. Sem políticas”, Moedas reafirmou que é preciso “olhar para aquela ciclovia e perceber como é que no longo prazo pode ser uma coisa que esteja correcta”, mostrando-se preocupado com ser uma avenida muito condensada, onde “as ambulâncias estão muitas vezes em grandes dificuldades” (o que não corresponde à realidade factual e empírica da Almirante Reis) e “há pessoas mais idosas que nos dizem que não podem andar de bicicleta”. E lembrou:“Não há só um lado, há dois lados.”

Apesar de ter afirmado sem deixar margem para dúvidas durante a campanha eleitoral de que a ciclovia da Almirante Reis era “para acabar”, Carlos Moedas surge agora numa posição que parece mais aberta ao diálogo. Em intervenções recentes, o novo Presidente da Câmara já tinha afirmado que não iria retirar a ciclovia até estudar e encontrar uma alternativa. Em Setembro, o Lisboa Para Pessoas escreveu que Moedas poderia preparar uma requalificação de fundo na Almirante Reis, integrando a ciclovia pop-up num ambiente mais definitivo, e agregando alguns projectos de espaço público já previstos na envolvendo, como são o da Parada do Alto de São João, o da Praça do Chile e o do Martim Moniz. No programa da coligação Novos Tempos para a freguesia de Arroios, prometia-se, aliás, uma “intervenção de fundo na Avenida Almirante Reis que suporte uma ciclovia bem planeada e melhor executada” – o PSD/CDS asseguraram a presidência dessa freguesia no actual mandato.

O receio da remoção da ciclovia da Almirante Reis e o significado que isso teria levaram a que cerca de um milhar de pessoas saísse à rua, no dia 19 de Outubro, para afirmar o seu apoio à referida infraestrutura pop-up. Uma petição com perto de três mil assinaturas recolhidas exclusivamente em papel foi entregue, no início deste mês, na Assembleia Municipal de Lisboa (AML), estando neste momento a ser analisada. Se é certo que Moedas tem dito agora, como o vereador Ângelo Pereira esta quarta-feira reiterou, que a ciclovia da Almirante Reis não iria ser retirada sem uma melhor alternativa, esta não foi a mensagem que o actual executivo apresentou no início do mandato ou em campanha – Moedas não criava uma relação temporal clara entre a remoção da ciclovia e o estudo de alternativa.

A petição entregue na AML pedia, entre outras coisas, precisamente a “manutenção da ciclovia de Almirante Reis enquanto não existir uma ampla participação pública que chegue a uma alternativa que ofereça uma rua segura para toda a gente e atraente e confortável para os modos activos”. Carlos Moedas anunciou esta terça-feira, na Assembleia Municipal, que já teve uma primeira reunião com o LNEC para dar início a um processo de avaliação da segurança das ciclovias. Para o Presidente, este é um passo fundamental para o futuro da rede ciclável, incluindo para o da ciclovia da Almirante Reis. Num breve comentário paralelo nesta reunião pública de Câmara, João Paulo Saraiva desafiou Moedas a realizar uma auditoria à rede não apenas com o LNEC: “Com os seus conhecimentos como Comissario Europeu e homem da Europa, há de ter um vasta conhecimento de especialistas europeus que poderiam vir aqui dar um refrescamento na forma como podemos analisar esta questão”

Voltando à Almirante Reis:“Vamos tentar encontrar uma solução e queremos incluir-vos também nessa solução”, disse Carlos Moedas aos elementos da Lisboa Possível nesta reunião pública. O movimento tem uma reunião marcada com o vereador Ângelo Pereira para o próximo dia 14 de Janeiro para discutirem a Almirante Reis e os outros assuntos.

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