O Metro de Lisboa vai fazer os “estudos, levantamentos e demais trabalhos acessórios necessários” ao prolongamento do Metro Sul do Tejo (MTS) à Costa da Caparica, passando pela Trafaria, por São João da Caparica, pela Quinta do Torrão e pela Quinta de Santo António.

Por delegação do Estado, é o Metro de Lisboa que vai proceder aos “estudos, levantamentos e demais trabalhos acessórios necessários” ao prolongamento do Metro Sul do Tejo (MTS) à Costa da Caparica. Em cima da mesa, estará a continuação da actual Linha 3 do MTS, que termina hoje à porta da Faculdade de Ciências e Tecnologias (FCT) da Universidade Nova de Lisboa.
Pretende-se estabelecer “uma ligação rápida e estruturante” à Costa de Caparica, através de “um corredor que servirá a Trafaria, São João da Caparica, Quinta do Torrão, Quinta de Santo António e Costa de Caparica“. Este prolongamento tem enquadramento financeiro através do Programa Acção Climática e Sustentabilidade (PACS), um envelope de 3,1 mil milhões de euros da União Europeia, inserido no pacote Portugal 2030, para aplicar a vários projectos até 2027.
O Metro Sul do Tejo é um sistema de metro ligeiro de superfície composto por três linhas, que interligam os concelhos de Almada e Seixal. O primeiro troço, entre a estação de comboios de Corroios e o centro de Almada (Cova da Piedade), abriu ao funcionamento em 1 de Maio de 2007. No final desse ano, ficou pronta a ligação à FCT e, um ano depois, o Metro chegou a Cacilhas. A exploração desta rede é privada, estando a cargo da MTS – Metro Transportes do Sul, empresa do Grupo Barraqueiro, que ganhou a concessão por 30 anos; está previsto o seu término em 2037.
Desde a entrada em funcionamento em 2007/08 que a rede do MTS não sofreu qualquer crescimento. As segunda e terceira fases do Metro Sul do Tejo, que consistiam num prolongamento pelo concelho do Seixal até aos concelhos do Barreiro e da Moita, nunca chegaram a avançar. Por outro lado, a ideia de levar o MTS à Costa da Caparica também é um plano com mais de uma década.
O estudo mais recente sobre o prolongamento do MTS data de 2021 e apresenta várias ideias para levar o Metro Sul do Tejo pelo denominado “Arco Ribeirinho Sul”, até Alcochete, passando pelo Montijo e também, claro, pelo Barreiro e pela Moita. Neste estudo, foram analisadas soluções de metro ligeiro (LRT), mas também opções à base de BRT (vulgo Metrobus). O trabalho foi presidido por João Abreu e Silva, professor no Instituto Superior Técnico, e agregou várias entidades e câmaras municipais, e também analisou uma extensão à Costa da Caparica, a partir da actual estação Universidade.
O que já foi estudado e o que vai ser estudado agora
No entanto, o traçado que o Metro de Lisboa agora vai estudar deverá ser diferente daquele que foi estudado e apresentado em 2021. Nessa altura, pensou-se prolongar a Linha 3 do MTS em via dupla desde a FCT pela estrada nacional 377-1, do lado sul; antes da Quinta da Armadora, em Pêra de Cima, o trajecto seguiria para sudoeste, atravessando uma zona mais rural até ao viaduto de ligação da A33 à Trafaria, situado junto a Pêra; daqui, seguiria para oeste, aproximando-se do IC20 e desenvolvendo-se do lado norte desta via até à entrada na Costa da Caparica.


Dentro da cidade, a linha passaria para via simples pela Avenida 1º de Maio, Avenida General Humberto Delgado, Rua Parque de Campismo de Almada, Estrada Florestal, Avenida D. Sebastião e Avenida Dr. Aresta Branco, fazendo uma espécie de circular e voltando ao IC20. A proposta agora em cima da mesa é levar o MTS a partir da FCT em direcção à Trafaria, fazendo-o ir por São João da Caparica, pela Quinta do Torrão e pela Quinta de Santo António, até à Costa de Caparica.
A escolha do Metro de Lisboa para realizar um novo estudo do traçado do prolongamento do MTS à Costa da Caparica foi feita através de uma portaria nos últimos dias do Governo de António Costa (a Portaria 410/2024/2); esta autorização é justificada por o Metro de Lisboa ser uma entidade pública que, por isso, será capaz de salvaguardar o interesse público. Além do mais, o Metro de Lisboa é uma “entidade pública empresarial com relevante experiência nacional e internacional” em matéria de sistemas de TCSP [Transporte Coletivo em Sítio Próprio], estando, inclusive, em processo de ter a sua primeira linha de metro ligeiro à superfície, a Linha Violeta em Loures e Odivelas.
“De entre os projectos de sistemas de TCSP na Área Metropolitana de Lisboa, surge como prioritário o prolongamento do sistema de metro ligeiro de superfície da margem sul do Tejo à Costa de Caparica, promovendo uma ligação rápida e estruturante entre o Campus Universitário da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e a Costa de Caparica, estendendo-se num corredor que servirá os aglomerados populacionais da Trafaria, São João de Caparica, Quinta do Torrão, Quinta de Santo António e Costa de Caparica, assegurando uma melhor conectividade dos seus territórios e destes à actual rede do Metro Sul do Tejo”, pode ler-se na referida Portaria 410/2024/2.
O Metro de Lisboa está autorizado a realizar a despesa correspondente, até ao montante total de 1,65 milhões de euros para a realização deste estudo, até 2026. Note-se que o Metro de Lisboa é, no novo Governo de Luís Montenegro, responsabilidade do Ministério das Infraestruturas, lideradas pelo ex-autarca de Cascais, Miguel Pinto Luz.
As conclusões do grupo de trabalho de 2021

Em 2017, um despacho do Governo de António Costa criou um grupo de trabalho com “com o objectivo de promover um estudo de um corredor de transportes públicos em sítio próprio, em complemento e conexão com o sistema em operação na fase 1 do Metro Sul do Tejo” (Despacho n.º 11382/2017). Presidido por João de Abreu e Silva, professor do Instituto Superior Técnico, este grupo integrou as câmaras municipais de de Alcochete, Almada, Barreiro, Montijo, Moita e Seixal, também a Área Metropolitana de Lisboa, a Infraestruturas de Portugal (IP) o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e o Instituto de Mobilidade de e dos Transportes (IMT).
O trabalho ficou concluído em 2021 e analisou opções de Light Rail Transit (LRT), igual à solução actual, e de Bus Rapid Transit (BRT), à base de autocarros eléctricos em vias exclusivas. Ficaram definidas duas grandes possibilidades: um Cenário 1 com LRT nos prolongamentos previstos em Almada (o da Costa e o da Margueira) e na extensão até Alhos Vedros, na Moita, com BRT/Metrobus deste ponto até Alcochete, devido à menor densidade populacional; e um Cenário 2 LRT nos prolongamentos em Almada e BRT de Corroios até Alcochete. Estima-se que o BRT pudesse ter uma capacidade para 150 lugares, inferior aos 280 lugares do metro ligeiro. O investimento custaria entre 719 e 740 milhões de euros no primeiro cenário e entre 540 e 585 milhões no segundo.



Embora o projecto original do Metro Sul do Tejo já contemplasse a expansão do actual sistema nos concelhos do Seixal e Barreiro, com a criação deste grupo de trabalho pretendeu-se estudar a sua expansão também aos concelhos da Moita, do Montijo e de Alcochete, promovendo uma ligação contínua entre Almada e Alcochete, no chamado “Arco Ribeirinho Sul”.
Podes consultar aqui toda a documentação do estudo de 2021:
📁 Documentos
Metro de Lisboa vai estudar outras linhas de TCSP [Transporte Colectivo em Sítio Próprio]
Além da linha do MTS para a Costa da Caparica, o Metro de Lisboa vai ser responsável por estudar outros projectos de TCSP [Transporte Colectivo em Sítio Próprio] na área metropolitana de Lisboa. Nesta terça-feira, 2 de Abril, foi assinalado um protocolo de colaboração entre a Área Metropolitana de Lisboa, os Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML) e o Metro de Lisboa para o “desenvolvimento de estudos, planeamento e concretização de projectos que visem a consolidação de uma rede de Transporte Colectivo em Sítio Próprio no território da área metropolitana de Lisboa”, informou a TML.
Neste protocolo, a AML e a TML “contribuirão com o desenvolvimento de estudos e projectos de planeamento e de ligação ao território bem como estudos e projectos de enquadramento“, enquanto que o Metro de Lisboa “contribuirá com a componente técnica de estudos e projectos de engenharia, nomeadamente tecnologia de metro ligeiro e eléctrico rápido. Esta parceria envolverá naturalmente os municípios onde cada estudo ou projecto se desenvolverá”.
Segundo Carlos Humberto de Carvalho, Primeiro-Secretário da AML, este é um “protocolo global, genérico” para trabalhar em conjunto na criação de soluções de TCSP no território metropolitano de Lisboa. “O transporte em sítio próprio, que é uma prioridade, e deveria ser uma prioridade do país. Nós, na Área Metropolitana, queremos avançar, dar alguns passos.” Há soluções neste âmbito que estão no papel há décadas, outras que são mais recentes.
